Pouquíssimos brasileiros viveram tão intensamente como o empresário Carlos Fernando de Carvalho, o Dr. Carlos para os amigos, fundador da Carvalho Hosken. Falecido em 10 de agosto, o engenheiro, nascido em Jacarepaguá em 1924, foi um dos primeiros a apostar na expansão do Rio de Janeiro rumo à Barra da Tijuca. E foi naqueles areais que se estendiam a perder de vista, no tempo em que a Cidade Maravilhosa mal chegava ao Leblon, que ele construiu seu patrimônio.
Mas a história do empresário começa décadas antes. Seguindo a profissão do pai, Dr. Carlos se formou engenheiro na Faculdade Nacional de Engenharia, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1949. O começo da carreira foi em um ramo completamente do que o consagraria: desenvolver projetos de locomotivas para as Indústrias Reunidas de Ferro e Aço.
Em 1951, fundou a Carvalho Hosken, em parceria com Jacques Hosken. Pouco depois, Jacques saiu do negócio e Dr. Carlos resolveu levar adiante a empresa, sem mudar o nome de batismo. A construtora começou então a realizar obras públicas por todo o país, com destaque para os núcleos habitacionais nas cidades satélites do Distrito Federal, que na época estava sendo desenvolvida para se tornar a capital do Brasil.
A partir dos anos 1960, o Dr. Carlos deu mais um passo ousado: além de construir, a Carvalho Hosken começou a atuar no ramo imobiliário. Neste período, a empresa assinou centros empresariais e condomínios residenciais na Zona Sul e no Centro do Rio, tais como Charles de Gaulle, Quintas & Quintais, Classe Tornado e Atlântico Sul.
Apesar dos bons negócios, Carvalho percebeu que bairros como Copacabana e Leblon estavam saturados e que, para crescer, seria preciso desbravar outras terras. É aí que ele decidiu investir na então longínqua Zona Oeste da cidade. Em pouco tempo, já era dono de 10 milhões de metros quadrados na região.
O empresário seguiu erguendo condomínios, até arriscar mais uma vez, apostando que, mais do que um conjunto de residenciais, a Carvalho Hosken poderia ir além. Nasciam assim os bairros planejados que ele tanto amava e que viraram marca registrada da Carvalho Hosken: Rio2, Cidade Jardim, Península, Ilha Pura e Centro Metropolitano. A infraestrutura completa de lazer, a diversidade de tipologias e, principalmente, o incentivo à autonomia e organização dos bairros, cada qual com sua associação de moradores, mudou a cara da Barra e criou um estilo único de viver.
O Dr. Carlos também fazia questão de patrocinar o desenvolvimento urbano nas áreas em que seus bairros estão inseridos. Entre as realizações públicas da Carvalho Hosken destacam-se Fontes da Barra, Parque Ambiental Professor Mello Barreto, além de participação na construção do Viaduto Prefeito Pedro Ernesto, na dragagem da Lagoa da Tijuca (em 2004) e na reurbanização das avenidas Via Parque e Abelardo Bueno.
Na década de 2010, Dr. Carlos assumiu uma missão "olímpica": construir a Vila dos Atletas, para as Olimpíadas do Rio, realizadas em 2016. O hoje bairro planejado Ilha Pura ganhou as páginas dos jornais no mundo todo pela excelência da infraestrutura, similar à de um resort. Ainda no ciclo olímpico, o empresário inaugurou a primeira filial da conhecida rede de hotéis Hilton, na Barra da Tijuca.
Além da paixão pela engenharia e pela construção civil, o empresário amava as artes, a tal ponto que transferiu esse DNA para seus bairros planejados. Um bom exemplo: parte de sua coleção de quadros, objetos e esculturas está espalhada pelos jardins de seus bairros. Durante anos, a Carvalho Hosken promoveu exposições e patrocinou a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). Também apoiou atletas olímpicos, como a ginasta Flávia Saraiva.
O "pai" dos bairros planejados deixou esposa, filhos, netos e bisnetos.